O empresário Erasmo Carlos Battistella, que está à frente de empreendimentos na área de biocombustíveis, lastima a falta de recursos para pesquisa e desenvolvimento no Brasil, tanto do setor público quanto na iniciativa privada Erasmo Carlos Battistella, presidente da Be8, concedeu meia hora da sua agenda de trabalho para receber AMANHÃ. Enquanto se preparava, em Passo Fundo, para viajar para Riad, na Arábia Saudita, para participar da Conferência Especial sobre Colaboração Global, Crescimento e Energia para o Desenvolvimento 2024, promovido pelo Fórum Econômico Mundial, ele revelou o que espera da tramitação do projeto de lei do Combustível do Futuro. Se aprovado no Senado sem modificações, será possível recuperar cinco dos dez anos de defasagem na comparação com a Europa e com os Estados Unidos. Aos 46 anos, o empresário, que fica com a família quando não está atarefado com os negócios, adora um bom churrasco, chimarrão e jogar futebol. “Eu sou centroavante, gosto de fazer gol”, confidenciou sorrindo ao final desta entrevista. Nela, ele também alerta que faltam recursos para que o Brasil possa inovar mais e pare de perder mentes brilhantes para outros países. Confira. Como o senhor avalia o projeto de lei sobre o Combustível do Futuro que está sendo analisado pelo Congresso?Avalio como um projeto muito importante para a área das energias renováveis. Eu acredito que é um projeto estruturante que garante para o Brasil um futuro muito interessante nos próximos dez anos. Estávamos sedentos por um projeto dessa magnitude que possa organizar, digamos assim, esse universo dos biocombustíveis e das energias renováveis. O projeto dá um sinal de continuidade e crescimento para o etanol, que é o biocombustível brasileiro mais antigo e que tem uma relevância muito importante na matriz energética. Ele dá uma perspectiva de continuidade e aumento para o mercado biodiesel que é o etanol, o nosso biocombustível mais jovem, mas que tem tido uma relevância muito importante na descarbonização no setor do diesel. A lei introduz os novos biocombustíveis, que são os biocombustíveis avançados, dos quais eu tenho falado que o Brasil hoje, até aprovação desse projeto, está uma década defasado quando comparamos com a Europa e com os Estados Unidos, que é a introdução do SAF [Sustainable Aviation Fuel, ou Combustível Sustentável de Aviação, feito com recursos mais sustentáveis, a exemplo de óleos usados de origem orgânica, como óleo de cozinha usado] e do HVO [Hydrotreated Vegetable Oil ou Óleo Vegetal Hidrotratado, o tipo de diesel verde ou diesel renovável mais produzido no mundo]. Além disso, a captura e a estocagem de carbono, que é outro tema muito relevante que está acontecendo no mundo, e sem sobra de dúvida, a possibilidade do Brasil produzir os que também vão beneficiar a transição energética. Em resumo, é um projeto estruturante, bem desenhado na base, muito discutido na Câmara e no nosso setor produtivo e que nós agora temos defendido, através das associações que nos representam, tanto etanol como diesel, que o projeto possa ser aprovado no Senado sem modificações, para que ele seja implementado o mais rápido possível. E como superar essa barreira da defasagem dos dez anos para recuperar o terreno perdido?O primeiro passo é fazer marco regulatório, partindo dessa lei do Combustível do Futuro. O Brasil tem um histórico excepcional na concepção e implantação de programas de biocombustível, já visto a história do etanol e do biodiesel. Se esse projeto for aprovado da forma como ele saiu da Câmara, já diminuímos essa distância em cinco anos. O que precisamos agora é que a iniciativa privada faça os investimentos. Mas para alcançar esse objetivo vai ser fundamental a aprovação dessa lei robusta para dar segurança jurídica e certamente vamos recuperar esse tempo perdido. Então há espaço no Brasil para termos um etanol competitivo. Poderá acontecer o mesmo com o querosene de aviação verde?O Brasil é o segundo maior produtor de etanol no mundo, apenas perdendo para os Estados Unidos, e ele se mostra muito competitivo, sim. Ele compete com a gasolina, mas temos aumentado o volume de produção e a tendência é que esse mercado cresça. Isso é importante para as commodities, pois se o mercado evolui, a tendência é diminuir os custos, pois eles são proporcionais. Não tenho dúvida que o crescimento do mercado vai trazer ainda mais competitividade ao etanol brasileiro. Quanto ao biocombustível para aviação, também acredito que o Brasil vai ser um grande player mundial num espaço maior ainda, de dez, quinze anos. Por que esse espaço? Porque há uma formação de um mercado global de biocombustível para aviação. Ele vai iniciar de forma não tão grande em 2027, se imagina com uma mistura de 2%, e depois esse índice vai crescendo. O Brasil, ao montar esse arcabouço de regras com o Combustível do Futuro, começa a participar do mercado em 2027, mas como somos um país que tem muito potencial de produção de matéria-prima e que tem muitas empresas com capacidade de investir e querem fazer isso. Se fizermos o dever de casa aprovando a lei e também implementando-a bem, teremos segurança para os investimentos. Na sua visão, quais são as principais barreiras para a adoção da transição energética em todo o mundo? O Brasil pode realmente ser protagonista nesse cenário?O Brasil já é protagonista nesse cenário. Um país que produz 85%, 86% de energia elétrica renovável, que é o segundo maior produtor de biocombustível do mundo, já é protagonista. Tanto é que Brasil, Estados Unidos e Índia lideram a aliança global para os biocombustíveis e o Brasil está sentado em todas as mesas redondas tratando de transição energética no mundo. Agora, precisamos tratar das principais desigualdades que temos a nível mundial, tanto a econômica, quanto a de entendimento e atitude. Tenho defendido abertamente que o G30, que são os 30 países mais industrializados do mundo, assumam a responsabilidade e acelerem o processo de transição energética e descarbonização, porque nós temos falado muito na transição energética para combustíveis, mas existem outras áreas. Temos a petroquímica, por exemplo, que é um setor que precisa ser analisado como vai