O primeiro dia de palestras e debates da 5ª Semana Nacional dos Técnicos Industriais destacou os desafios do mercado de trabalho para os técnicos industriais do Brasil. Certificação por competência, inteligência artificial, regularização fundiária e formação técnica foram os temas apresentados e discutidos nesta terça-feira (24/09) no evento promovido pelo Conselho Federal dos Técnicos Industriais (CFT).
A programação continua nesta quarta-feira (25/09) e encerra amanhã, quinta-feira (26/09), com transmissão ao vivo pelo Youtube, canal oficial @cftbrasil.
Certificação por competência
A Rede Nacional de Certificação Profissional (Rede Certifica), instituída pela Portaria 902/2024, foi assunto da palestra proferida pela coordenadora-geral substituta de Planejamento e Avaliação da Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação (MEC), Flávia Xeres. O diretor de Fiscalização e Normas do Conselho Federal dos Técnicos Industriais (CFT), Bernardino José Gomes, foi o mediador do painel que tratou de um dos desafios dos profissionais registrados no Sistema CFT/CRTs.
Esforço conjunto
Flávia Xeres lembrou que o CFT esteve presente na construção coletiva da norma e acrescentou que conta com a autarquia no processo de implementação, previsto para este ano.
A formulação da Rede Certifica teve como marco normativo a Lei de Diretrizes Orçamentárias da Educação (Lei nº 9.394/1996), as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Profissional e Tecnológica (Resolução CNE/CP nº 01-2021) e dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), referentes à Educação, no Brasil.
Um dos destaques, de acordo com Flávia Xeres, é a previsão na Portaria 902/2024 da oferta gratuita dos processos de certificação profissional, a fim de assegurar a continuidade dos estudos.
“Nós estamos imaginando que vamos lidar com aquelas pessoas que ainda não têm a Educação Básica. Para essas pessoas, a questão da gratuidade é uma questão de acesso, por isso colocamos essa exigência a todas as instituições que queiram aderir [à Rede], que seja gratuito para o trabalhador”, explicou.
“Temos interesse em continuar participando para levar segurança à sociedade e aos profissionais que vão se registrar conosco. Afinal de contas, a escola vai dar a certificação, nós vamos dar a habilitação profissional e eles vão ofertar serviço à sociedade. E esse serviço tem que ser ofertado com segurança”, sustentou o diretor de Fiscalização e Normas do CFT, Bernardino José Gomes.
Inteligência Artificial
O secretário de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social (Sedes) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Inácio Arruda, palestrou sobre o Impacto da Inteligência Artificial no Mundo do Trabalho. A diretora do CRT-03, Maria Amélia Calheiros Santos, mediou o painel que abriu o ciclo de palestras no início da tarde.
Protagonismo do CFT na inovação*
Inácio Arruda, que alavancou a carreira após concluir dois cursos técnicos, entende haver, ainda, insegurança no Brasil quando o assunto é inteligência artificial.
O representante do governo federal explanou sobre um projeto em andamento que prevê investimentos na ordem de milhões de reais no sentido de assegurar ao país infraestrutura com ferramentas próprias para o uso da IA, em diversas áreas.
O palestrante defendeu que o CFT é um ator relevante neste processo de inovação.
“O nosso Conselho tem um grande papel. Ele cuida da formação dos profissionais, fiscaliza o exercício da profissão, mas ele cuida da qualidade dos cursos oferecidos nas nossas instituições. Ele abre espaço para discutir esse projeto de Brasil, a nova estratégia nacional de ciência e tecnologia que incluía a inteligência artificial. As escolas técnicas do nosso país podem preparar com alta qualidade os alunos com base na inteligência artificial e dar saltos não só no conhecimento, mas na produção econômica brasileira. O desenvolvimento, o crescimento da economia, o aumento da riqueza, interessam aos técnicos industriais em todo o lugar do Brasil”, defendeu.
Regularização Fundiária
“A Regularização Fundiária e o Papel dos Técnicos Industriais” foi abordada pelo titular da Defensoria Pública especializada em Direitos Coletivos, Carlos Alberto Souza de Almeida Filho, sob a mediação do presidente do CRT-01, Marcelo Martins Guimarães e Silva
Carência de mão de obra
Defensor público há quase duas décadas, o palestrante revelou que, assim como seus os pais e os irmãos, sua família tem o curso técnico como base na formação profissional. E, hoje, não tem dúvidas de que o papel do técnico na questão fundiária é crucial na solução dos conflitos.
“Se nós estamos falando de uma necessidade de compreensão a respeito desse universo registral e da realidade em campo, quanto mais profissionais tivermos melhor. O grande entrave para a regularização fundiária é justamente a ausência do profissional técnico, no sentido amplo. Quanto mais se tivermos exigindo formação demais, teoria demais para algo que tem que ser observado da forma mais pragmática possível. A ausência de profissional faz com que aquilo que seria crucial para o desenvolvimento de uma estabilidade fundiária não aconteça”, alertou.
O defensor público deixou uma mensagem aos participantes.
“O grande papel que o técnico tem no processo da regularização fundiária é fazer o que ele faz de melhor, conseguir aplicar não só a técnica mas o pragmatismo a algo que precise de uma análise pragmática”, reforçou.
Formação Profissional*
A palestra “Educação profissional na perspectiva do desenvolvimento social”, foi abordada pela reitora do Instituto Federal de Brasília (IFB), Veruska Machado. O presidente do CRT-03, Luis Paulo de Sousa, mediou o debate com o público.
A especialista destacou as vantagens do princípio da verticalização, em que a escolha por um curso de qualificação, ainda que de curta duração, pode ser um estímulo para a busca pela continuidade dos estudos e pelo aprimoramento.
Veruska Machado enfatizou o fortalecimento dos programas de residência profissional – tradicionais no processo de formação dos profissionais da saúde, e, hoje, utilizados também nas áreas técnicas.
A palestrante defendeu a formação integral como elemento extremamente relevante na formação profissional, o intercâmbio entre as instituições e empresas. E ainda destacou não haver mais espaço para se falar em formação sem inclusão.
“A gente, hoje, precisa também pensar numa perspectiva inclusiva das diversidades, numa perspectiva inclusiva de formação de pessoas com deficiência, observando as necessidades educacionais específicas dessas pessoas, uma perspectiva inclusiva do ponto de vista étnico-racial, do ponto de vista de gênero, das pessoas quilombolas, das pessoas privadas de liberdade. A educação profissional ela precisa se expandir e atingir o número maior possível de pessoas para que a gente possa, por meio da educação, fazer essa transformação que a gente tanto deseja”, concluiu.
Edição: Antonio Grzybowski
Reportagem: Daiane Garcez
Fotos: André Almeida
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