Transformação digital e descarbonização esbarram em mudança cultural e financiamento

Especialistas destacaram desafios para implementar projetos inovadores e sustentáveis no Radar Pocket em Chapecó

Evento reuniu empresários da região oeste para debater desafios para o futuro da indústria

Os principais entraves para que as indústrias de Santa Catarina assumam um maior protagonismo na adoção de projetos e iniciativas que reduzam sua pegada de carbono e invistam na transformação digital são o acesso a recursos e a necessidade de uma mudança cultural em relação a inovação e novas tecnologias. A avaliação é dos palestrantes e painelistas que participaram do segundo evento da Jornada Radar Reinvenção, que a Federação das Indústrias de SC organizou na quinta-feira (13) em Chapecó. Para que todo o potencial da descarbonização e da transformação possa ser aproveitado pelas indústrias e convertido em mais eficiência, competitividade e otimização de recursos ambientais, é preciso mudar a mentalidade das pessoas. “Não basta mais fazer o que a legislação exige em termos de sustentabilidade. O empresário precisa atender a demandas legais e também dos clientes e da sociedade”, destacou Alceu Lorenzon, diretor da Alcaplas.

O presidente da Master Agroindustrial, Mario Faccin, citou o exemplo da empresa, que até janeiro deste ano tinha ações de sustentabilidade esparsas e sem direcionamento. “Fizemos parceria com Senai para um diagnóstico das iniciativas e colocá-las dentro da metodologia, para incluir na jornada ESG da Master. Mais importante do que dizer como você faz, é contar como você faz, principalmente em uma atividade como a suinocultura, que era rotulada como problema ambiental”, afirmou Faccin. Para o consultor Paulo Herrmann, a produção agropecuária brasileira tem potencial para aumentar 40% nos próximos 30 anos. “Isso vai ter de acontecer de maneira diferente do que nos últimos 50 anos, de forma mais eficiente, mais intensiva e que poupe mais os recursos naturais”, salientou.

Quando o assunto é transformação digital, a percepção é a mesma. “A transformação digital é na verdade uma transformação cultural. Precisamos formar talentos com novas habilidades e capacidades. Hoje, a mão de obra especializada é escassa e cara, praticamente inexistente quando se fala em inteligência artificial e ciência de dados, por exemplo. As empresas precisam de mudança sistêmica, que inclua estratégia, gestão e cultura”, explicou Andreia Dietrich, consultora da Ambidestra.

Recursos
A mudança cultural passa também por políticas públicas e pela maneira como as instituições financeiras pensam a concessão de crédito para projetos de inovação em sustentabilidade ou transformação digital. Isso passa por linhas de crédito mais adequadas à realidade dos pequenos negócios, por exemplo, e pelo maior volume de recursos disponíveis. Na avaliação da diretora de operações do Grupo Cetric, Loana Defaveri Fortes, o mercado financeiro poderia dar mais atenção a projetos de descarbonização, com linhas de crédito mais atrativas. Mas esse nem sempre é o principal entrave para o investimento, de acordo com ela. “Muitas vezes o empresário desiste por questões legais e demora burocrática, como licenciamentos ambientais.”

O vice-presidente estratégico da Fiesc e presidente da Aurora Coop, Neivor Canton, destacou a importância de os investimentos serem tão sustentáveis como os projetos que financiam. “Empresário tem sempre a preocupação de que o que ele venha a fazer seja sustentável, sem excluir a questão econômica, fazendo avanços na medida em que o retorno seja dentro de padrões aceitáveis de payback, por isso o crédito é essencial”.

Para o CEO da Neoliderança, Alex Marson, a viabilidade econômica para a transformação digital em negócios de todos os portes precisa ser contemplada. “Os pequenos e médios negócios precisam ficar atentos a editais para inovação com recursos não reembolsáveis”, destacou. O CEO da PPI-Multitask, do grupo Weg, Marcelo F. Pinto, destacou que, para muitas empresas, a única maneira de conseguir desenvolver o projeto é contando com linhas de fomento e com o apoio de institutos de inovação e pesquisa. Um exemplo disso é a parceria firmada entre a PPI com o SENAI para desenvolver novo produto para auxiliar as pequenas empresas nos seus primeiros passos na jornada da transformação digital. “Pequenos, médios e grandes negócios estão em momentos diferentes nessa jornada e mesmo em grandes empresas existem departamentos e áreas com realidades distintas. Precisamos identificar o ponto de partida, respeitando as maturidades e aí fazer um plano passo a passo para mudança de cultura que nos levam a abrir o olho para novas oportunidades,” destacou.

Outro desafio a ser superado é a monetização de ativos como créditos de carbono. O consultor Paulo Herrmann explicou que o Brasil tem tecnologias de incorporação de carbono, mas não consegue monetizar esse ativo. “Somos o país que mais recicla embalagens plásticas de produtos químicos, mas isso não é contabilizado”, afirmou. Pedro Guilherme Kraus, CEO na Lux Carbon Standard, destacou que o carbono é um ativo financeiro, mas que para ser negociado precisa ter lastro. “A integridade dos créditos, a transparência e a segurança são essenciais para que os créditos de carbono tenham valor como ativos financeiros aptos a serem comercializados”, explicou.